A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) lançou esta terça-feira, 1 de abril, o recurso “Vamos Falar Sobre Desinformação”.
O objetivo é fortalecer as competências de todos e, em particular, apoiar as mães, pais, professores e educadores na tarefa de ajudar as crianças e jovens a navegar na (des)informação disponível nas redes sociais e noutras plataformas digitais.
A desinformação corresponde a qualquer tipo de conteúdo ou prática que contribua para o aumento de informação falsa, não validada, pouco clara e/ou que tenha a intenção de afastar as pessoas dos factos e da verdade. Pode assumir várias formas: deepfakes, bots, contas falsas, clickbait, conteúdos virais ou descontextualização de conteúdos verdadeiros.
As pessoas podem divulgar desinformação por brincadeira, por acreditarem nela, com o objetivo de enganar, com o objetivo de fazer dinheiro ou com fins políticos ou ideológicos.
A desinformação afeta a saúde pública, promove desconfiança nas instituições, influencia atitudes e comportamentos, alimenta a polarização e mina a confiança na democracia. Está associada ao aumento do extremismo, da violência e do discurso de ódio.
Identificar informação falsa é um desafio exigente e complexo. Quando recebemos informação nova, a nossa primeira reação é tentar compreendê-la e integrá-la no conhecimento que já temos disponível. Apenas num segundo momento é que tentamos avaliar se esta é verdadeira ou falsa. Ou seja, verificar a verdade exige um esforço cognitivo adicional, pelo contrário, aceitar imediatamente a informação como válida é um caminho rápido e automático.
A tentação de confirmar a nossa visão do mundo. Temos uma tendência natural para procurar informações que reforcem aquilo em que acreditamos e comprovem que estamos corretos. A desinformação é mais perigosa quando está alinhada com a nossa visão do mundo, fazendo com que a aceitemos fácil, rápida e acriticamente.
A tentação de confiar cegamente nas pessoas do nosso grupo. O mensageiro da desinformação também influencia a credibilidade que atribuímos à mensagem. Se esta nos chega a partir de alguém em quem confiamos ou de um grupo a que pertencemos, a nossa predisposição para acreditar naquilo que é dito aumenta exponencialmente.
A tentação de simplificar aquilo que é complexo. A desinformação tende a simplificar o mundo – preto ou branco. As instituições, pessoas ou assuntos são retratados como sendo sempre bons ou sempre maus, facilitando que as perspetivas diferentes das nossas sejam ignoradas ou considera- das falsas logo à partida.
Todos podem ser afetados, mas crianças, adolescentes e pessoas mais velhas são particularmente vulneráveis. Cerca de 50% dos alunos de 15 anos não distingue factos de opiniões, e pessoas com mais de 65 anos partilham sete vezes mais desinformação do que jovens adultos.
A era digital trouxe uma mudança significativa na forma como a desinformação prolifera, au- mentando exponencialmente o seu alcance e rapidez de disseminação. Por exemplo, nas redes sociais uma notícia falsa espalha-se seis vezes mais rápido do que uma notícia verdadeira.
Todos os dias, enquanto utilizadores, podemos percorrer distraidamente cerca de 90 metros de feed nas redes sociais – aproximadamente a altura da Estátua da Liberdade. Para garantir que permanecemos atentos aos ecrãs, estas plataformas têm de certificar-se que recebemos conteúdos que gerem reações e sejam emocionalmente intensos. O conteúdo que melhor encaixa nestas condições é a desinformação.
As redes sociais também favorecem a criação de câmaras de eco (também denominadas bolhas informativas). Uma câmara de eco é um contexto onde as nossas opiniões e ideias são repetidas e reforçadas por outras pessoas que pensam igual a nós. Com o tempo, podemos ficar com a ideia de que “toda a gente pensa assim” e se alguma pessoa não o fizer, deve ser rejeitada ou alvo de desconfiança.
O combate à desinformação requer um esforço individual e sistémico. A OPP propõe um conjunto de estratégias práticas:
- Parar e pensar.Refletir antes de reagir ou partilhar. Prestar atenção à reação emocional provocada pelo conteúdo. Muitos conteúdos são feitos para gerar cliques ou reações emo- cionais. Importa suspender a decisão de reagir até conhecermos as implicações do conteúdo.
- Verificar e investigar.Observar se o título corresponde ao conteúdo, verificar se o URL é confiável, confirmar se o autor é identificado, confiável e qualificado, confirmar a data e avaliar se a imagem corresponde ao conteúdo relatado.
- Fazer uma “leitura lateral”. Este método consiste em verificar o que se lê, enquanto estamos a ler. Se nos deparamos com informação que nos deixa na dúvida, precisaremos de outras fontes para nos sentirmos confiantes na sua credibilidade, como verificadores de factos, imprensa de referência ou fontes científicas.
- Clicar com critério. Os primeiros resultados de pesquisa nem sempre são os mais fiáveis. É importante avaliar a origem, o título e o resumo antes de aceder.
- Denunciar conteúdos desinformativos. As plataformas digitais permitem reportar conteúdos falsos, ofensivos ou perigosos. Denunciar ajuda a reduzir a exposição de outras pessoas.
- Divulgar informação de qualidade. Partilhar informação validada por especialistas e que tenha base científica ajuda a contrariar a disseminação de conteúdos falsos.
- Usar recursos de fact-checking. Ferramentas como o Polígrafo, Prova dos Factos (Público), Fact Check (Observador), Iberifier ou EUvsDisinfo e Google Fact Check Explorer permitem verificar a veracidade de conteúdos.