Existe uma relação perigosa e muitas vezes subestimada entre a diabetes e a perda auditiva. É o que demonstra o novo Consensos “Audição e Diabetes” promovido pela Amplifon e apresentado esta semana em Milão, que analisa um grupo de estudos clínicos e laboratoriais internacionais que avaliaram o potencial impacto negativo da diabetes na perda auditiva.
382 milhões de pessoas1 em todo o mundo e 9,8% da população portuguesa sofre de diabetes2 o que significa que estas pessoas têm o dobro da probabilidade (2,15 vezes mais) de sofrer de perda auditiva, independentemente da sua idade (meta-anaÌï¿1Ž2lise de Horikawa et al., 20133).
Estima-se que 45% dos doentes diabéticos, ou seja, cerca de um em cada dois, sofrem de perda auditiva. Esta relação altamente incapacitante preocupa os especialistas, visto que combina duas emergências sociais de rápido crescimento: de acordo com as previsões, até 2035 o número de pessoas com diabetes vai aumentar 55%, para 590 milhões de pessoas, enquanto o numero de pessoas com défices auditivos vai duplicar para mais de mil milhões até 2050.
As complicações da diabetes podem ir desde cegueira a falência renal, neuropatia e doenças cardiovasculares. No entanto, e apesar das muitas provas dadas por vários estudos científicos, a perda auditiva ainda não é “oficialmente” considerada pela OMS uma complicação da diabetes.
“Estudos demonstram que a diabetes duplica o risco de sofrer de perda auditiva, um problema que afeta 9,8% da população portuguesa, a prevalência mais alta da Europa. 65% das perdas auditivas diagnosticadas em pessoas com diabetes dizem respeito às frequências mais agudas (altas), enquanto 26% dos casos correspondem ás frequências média-baixas”, explica o Dr. Celso Martins, Diretor Técnico da Amplifon. “É importante destacar que dois em cada três diabéticos sofrem de perda auditiva e pelo menos um em cada quatro necessita de utilizar um aparelho auditivo. Para travar este problema, torna-se fundamental agir em duas frentes: incluir o exame auditivo nos testes de rotina dos doentes com diabetes e realizar testes de glicemia nas pessoas com perda auditiva.”
“A diabetes é uma doença crónica que vive com doentes 24 horas por dia, 7 dias por semana e 365 dias por ano. Não há dúvida que é uma carga diária pesada devido às restrições, regras e prazos impostos pelos tratamentos e pelas alterações no estilo de vida. Se além disso, acrescentarmos um défice auditivo mais ou menos severo, as condições destes doentes pioram ainda mais.
Assim, este estudo tem por objetivo aumentar a sensibilização para a relação entre estas duas doenças, que irá certamente favorecer os diagnósticos precoces de hipoacusia e irá ajudar os audiologistas a implementar estratégias terapêuticas alinhadas com as necessidades das pessoas diabéticas quanto às escolhas e adaptação ao aparelho auditivo, tendo em conta a sua alta sensibilidade aos problemas acústicos ou predisposição para infeções e manifestações dermatológicas”, acrescenta o Professor João Paço, Diretor Clínico do Hospital CUF Infante Santo.
Vários estudos demonstram que a diabetes causa o espessamento das paredes dos vasos cocleares – em média 3 micrómetros de alargamento – o que leva à redução do fluxo sanguíneo da cóclea e impede a conversão dos sons em impulsos nervosos. Outra teoria afirma que a diabetes tem um efeito direto nos nervos, alterando a transmissão dos impulsos ao longos dos nervos acústicos e vias auditivas centrais.
Foram também identificados alguns fatores de risco para a perda auditiva em pessoas com diabetes. Por exemplo, os níveis de colesterol HDL abaixo dos 40 mg/ dL torna estas pessoas 2,20 vezes mais vulneráveis a desenvolver perda auditiva de frequência média-baixa. Por outro lado, a doença coronária e a neuropatia periférica são as doenças mais associadas ao desenvolvimento de perda auditiva de frequência aguda (com um risco acrescido de 4,39 e 4,42 respetivamente).