Aumento de 16% face ao ano anterior praticada principalmente por familiares ou em instituições. Baixas reformas, decréscimo do poder de compra e fracas condições de habitabilidade aumentam a situação de pobreza e negligência nos mais velhos.
De maio de 2022 a maio de 2023 o serviço contabiliza 1785 contactos telefónicos, e-mails e articulações interinstitucionais, que resultaram na abertura de 251 processos internos. 59% das denúncias foram realizadas por e-mail/formulário e por telefone (41%). Neste período foram recebidos 301 pedidos de ajuda. Os dados são apresentados na semana em que a Linha comemora 9 anos de existência.
As vítimas são em 62% dos casos mulheres, entre os 75 e os 84 anos (43%), em situação de viuvez (51%), que residem com familiares ou cuidadores (49%), sozinhas (40%) e em instituição (11%).
Nas denúncias recebidas os agressores mantêm-se como familiares das vítimas em 65% dos casos, sendo 42% filhos/as e 38% são homens.
No que respeita às formas de violência experienciadas pelas vítimas existiu negligência em cerca de metade (48%), revelando um aumento significativo, de 16%, face ao ano anterior.
Fundação Bissaya Barreto . Serviço de Imagem e Comunicação . T: 239 800 400 . Tlm: 961 712 242 . E: sic@fbb.pt . www.fbb.pt
Marta Ferreira, assistente social da linha SOS Pessoa Idosa clarifica este tipo de violência, “aqui entra a negligência ativa, a omissão de auxílio intencional, a ausência de cuidados essenciais ao bem-estar da pessoa idosa, perpetrada fundamentalmente por familiares ou em contexto institucional”. A técnica esclarece que esta negligência se manifesta ao “não garantir alimentação adequada, não assegurar que a pessoa tenha higiene ou negligenciar a toma da medicação de forma propositada. No âmbito dos lares há situações reportadas de utentes sem alimentação adequada ao estado de saúde, em que são administradas dosagens elevadas de medicação deixando os idosos mais prostrados, ou que dão entrada no hospital, vindos de uma instituição, subnutridos”.
Acrescenta ainda que “a autonegligência também se insere nesta tipologia e corresponde à incapacidade da pessoa idosa em perceber que precisa de ajuda. É, no entanto, de realçar, a receção de casos de negligência sem intencionalidade, passiva, por desconhecimento sobre a forma correta de tratamento, por cansaço do cuidador ou por acentuadas dificuldades financeiras. Nos casos que acompanhamos, esta negligência tende a ter por base problemas económicos, que impedem a contratação de um serviço de apoio, por exemplo, apesar de o cuidador agir sem dolo. Os cuidadores não pretendem maltratar a pessoa idosa, contudo, nem sempre têm consciência de que estão a praticar atos negligentes, nomeadamente, quando os próprios também apresentam limitações físicas ou mentais que os impedem de cumprir os cuidados de forma adequada”.
A técnica responsável pela linha aponta prováveis causas para este aumento de casos de negligência, referindo as “baixas reformas, diminuição do poder de compra de bens essenciais à sobrevivência, condições de habitabilidade precárias, cancelamento de serviços de apoio por impossibilidade de pagamento, entre outros fatores, que confluem num aumento das situações de pobreza e, concomitantemente, de negligência, nas camadas mais envelhecidas da população”.
A violência psicológica está em 29% dos casos, um aumento de 3% face ao período homólogo em 2022, a financeira e a física em 11% e o abandono em 6%.
Fundação Bissaya Barreto . Serviço de Imagem e Comunicação . T: 239 800 400 . Tlm: 961 712 242 . E: sic@fbb.pt . www.fbb.pt
Foram trabalhados 13 processos em conjunto com a Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra – Ministério Público, com a Procuradoria a ser responsável por 5% das sinalizações efetuadas ao Serviço SOS Pessoa Idosa.
O distrito de Lisboa, com 27%, mantém-se como o distrito com maior percentagem das situações reportadas. Coimbra ocupa a segunda posição, com 12%, tendo registado um aumento comparativamente com o ano passado que, para Marta Ferreira, pode eventualmente ser justificado “pela maior divulgação do serviço a nível local e também mais conhecimento do trabalho desenvolvido pelo SOS por parte das entidades do distrito”.
O distrito de Setúbal tem igual percentagem (12%) e do Porto foram recebidos 10% dos casos.
Desde 2014, início da atividade do serviço, a Linha SOS Pessoa Idosa recebeu 2203 pedidos de ajuda que resultaram na abertura de 1848 processos internos e na realização de 3115 articulações com entidades que intervém na área da violência/envelhecimento, como segurança social, IPSS, autarquias, unidades de saúde e forças de segurança, entre outros.
O Serviço SOS Pessoa Idosa é uma resposta de intervenção social que integra uma linha, nacional e gratuita, de atendimento telefónico 800 102 100, um serviço de atendimento direto e personalizado e um serviço de mediação familiar.
A Linha tem por objetivo principal apoiar e responder aos apelos de pessoas que vivem situações de violência nas suas diversas manifestações ou delas têm conhecimento, garantindo o anonimato de quem apela.
As denúncias podem também ser realizadas via e-mail, sospessoaidosa@fbb.pt