O diretor do serviço de urgência do Hospital Santa Maria defendeu hoje que para captar médicos é preciso dar-lhes o que eles valorizam, reconhecendo que “um dos maiores problemas” de quem chefia uma urgência é “fazer uma escala”.
“Quem está a gerir pessoas tem que perceber e tem que ir ao encontro do que as pessoas querem e conseguir fazer todo um puzzle para que isso encaixe de maneira a que os serviços possam funcionar. É evidente que não é fácil”, disse João Gouveia na primeira edição da conferência “SNS Summit”, que está a decorrer no Hospital de Santa Maria, contando que está a tentar fidelizar profissionais a dias de escala, nomeadamente os prestadores de serviço, e mais metade dizem que “a grande vantagem de estarem ali é que não têm um dia fixo, fazem o que querem”.
Dando o seu exemplo, o médico intensivista diz que prefere ter a sua vida programada e saber que pode ir correr ou passear num dia, porque sabe que no outro está a trabalhar”, mas há pessoas que querem ter liberdade para escolher os seus horários.
João Gouveia adiantou que “a perspetiva da carreira” já não é prioridade, porque a carreira praticamente não tem implicação em graus remuneratórios ou em estabilidade.
“Se nós olharmos para o mundo do emprego em geral, desde as nossas gerações, para as gerações atuais, se calhar há cinco vezes mais trocas de emprego ao longo da vida. A realidade é diferente, as pessoas não valorizam as mesmas coisas. Nós temos é que saber o que é que eles valorizam, ir atrás deles. Sem nos adaptarmos não vamos conseguir”, alertou.
Sobre o que os profissionais valorizam, João Gouveia indicou que, além de qualidade de vida, a formação, sendo que no caso das urgências a especialidade de Medicina de Urgência não foi aprovada pela Ordem dos Médicos.
Com a formação, está a garantir-se segurança para os doentes e “se calhar uma maior eficácia e efetividade no sistema de saúde”, além de conseguir com isso também captar profissionais.
“Eu consegui captar algumas das pessoas porque fiz um compromisso de que vamos fazer no serviço de urgência uma formação para que todas as pessoas possam ter o equivalente à especialidade de Medicina de Urgência e montar um programa de formação dentro do serviço”, revelou, desejando que, quando for criada esta especialidade, o seu serviço seja “o primeiro a esgotar os lugares de formação”.
Presente no encontro, o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de São João, Nélson Pereira, também defendeu que “só é possível ter carreira na urgência se houver especialidade”.
“Eu posso ter uma carreira sem ter uma especialidade, mas na organização atual que nós vivemos, de facto, não é possível para quem tem outra especialidade progredir na sua carreira porque não cumpre a sua especialidade”, disse Nélson Pereira, considerando que é possível organizar um outro modelo onde as duas coisas não estejam necessariamente sobrepostas.
“Mas o que eu acho é que é preciso as duas coisas. É preciso a especialidade e é preciso a carreira”, rematou.