A maioria dos portugueses (59%) acredita no impacto positivo da inteligência artificial (IA) na saúde e apenas 13% alega não confiar na sua utilização. A generalidade (56%) mostra-se até disponível para partilhar dados pessoais com sistemas de IA. Estas são conclusões do Índice de Saúde Sustentável, estudo da NOVA Information Management School (NOVA-IMS) em parceria com a AbbVie, que todos os anos avalia a sustentabilidade do SNS e que este ano procurou também conhecer a perceção e recetividade dos portugueses à utilização de IA na saúde.
Embora o conhecimento geral sobre a IA em saúde ainda seja limitado — 38% revelam ter um conhecimento muito reduzido e 22% admitem não saber nada sobre o tema —, o estudo demonstra que há uma base sólida para o crescimento da aceitação pública da IA. Os principais benefícios identificados incluem diagnósticos mais rápidos (74%), redução dos tempos de espera (70%) e ajuda na interpretação de dados de saúde (69%).
Ainda assim, persistem preocupações, nomeadamente quanto a possíveis erros em diagnósticos e tratamentos (57%), bem como à substituição de profissionais de saúde por máquinas (55%). Aliás, mais de metade dos portugueses (52%) considera provável a IA substituir os profissionais de saúde em algumas funções e 63% considera muito importante regular o uso da IA.
Quando questionados sobre uma possível situação de diagnóstico, a maioria prefere que a decisão final seja do médico com auxílio de IA (63%) e não exclusivamente do médico (35%) ou exclusivamente da IA (1%). Os portugueses (65%) reconhecem também a importância da IA para a sustentabilidade do SNS.
O índice de sustentabilidade desceu para os 79,9 pontos, menos 4,9 pontos do que em 2023 (84,8), representando o valor mais baixo desde que foi criado, em 2014,. Esta redução deve-se a uma combinação de fatores estruturais, sendo a produtividade um dos mais preocupantes, com o número de doentes padrão por milhão de euros investido a atingir o valor mais baixo da década: 185 em 2024, face aos 202 de 2023.
Apesar desta quebra, a qualidade técnica do SNS manteve-se praticamente estável, fixando-se nos 66,7 enquanto a qualidade percecionada pelos utentes aumentou ligeiramente, passando de 72,4 para 73,7 pontos. A acessibilidade técnica (51 pontos) e percecionada (65,5 pontos) continuam a ser uma das maiores fragilidades do sistema.
Por outro lado, o SNS conseguiu reduzir a dívida vencida em 35% face a 2023, confirmando uma tendência positiva de consolidação financeira. No entanto, a disparidade crescente entre a despesa e a atividade penaliza o desempenho global, traduzindo-se numa queda da sustentabilidade do sistema. Em paralelo, os portugueses continuam a reconhecer o valor do SNS, com a eficácia global avaliada em 70,9 pontos e os níveis de satisfação e confiança a manterem-se muito altos e estáveis, sobretudo no que respeita aos cuidados de internamento e à qualidade da informação disponibilizada pelos profissionais de saúde, considerados o principal ponto forte do sistema. Os tempos de espera, contudo, continuam a ser a principal área de insatisfação.
“Olhando para as várias dimensões que compõem o índice de sustentabilidade, vemos que a qualidade se mantém estável, a acessibilidade regista uma ligeira melhoria, mas continua a ser um dos pontos mais frágeis, e a dívida vencida apresentou uma redução significativa. No entanto, a despesa cresce a um ritmo mais acelerado do que a atividade do SNS, o que resulta numa quebra da produtividade e, consequentemente, numa queda do índice global de sustentabilidade”, explica Pedro Simões Coelho, professor da NOVA-IMS e coordenador do Índice de Saúde Sustentável. “Apesar destes desafios, é importante destacar a elevada valorização dos portugueses quanto à eficácia do SNS, a elevada satisfação e confiança no sistema, com destaque para os profissionais de saúde. Com base nos dados deste estudo, torna-se evidente a importância de políticas públicas que valorizem simultaneamente a eficiência económica e a experiência dos utentes, assegurando a sustentabilidade do SNS tirando partido de um contexto de inovação tecnológica acelerada”.
Em 2024, o impacto económico do SNS foi estimado em 9,5 mil milhões de euros, resultante da sua contribuição direta para a redução do absentismo laboral, melhoria da produtividade e valorização do estado de saúde da população.
Segundo os dados do estudo, o SNS permitiu evitar, em média, 2 dias de ausência ao trabalho por pessoa, o que representa uma poupança estimada de mil milhões de euros em salários pagos por dias não trabalhados. A contribuição do SNS para a melhoria da produtividade é ainda mais relevante: permitiu evitar a perda de 10,3 dias de trabalho por pessoa, o que representa uma poupança adicional de 5,3 mil milhões de euros, ao evitar quedas no desempenho e na capacidade produtiva dos trabalhadores.
Combinando ambos os efeitos — a poupança em salários por menor absentismo (1 mil milhão de euros) e a poupança associada à preservação da produtividade (5,3 mil milhões de euros) — obtém-se um valor de 6,3 mil milhões de euros. Considerando o impacto dessa poupança por via dos salários e a relação entre produtividade/remuneração (valos referência do INE), é possível concluir que os cuidados prestados pelo SNS permitiram um retorno económico de 9,5 mil milhões de euros.
Iniciada em 2014, a parceria entre a biofarmacêutica AbbVie e a NOVA IMS resultou na criação do primeiro índice capaz de quantificar a sustentabilidade do SNS. O estudo Índice de Saúde Sustentável procura compreender os contributos económicos e não económicos do SNS, conhecer o impacto dos custos de utilização do sistema no nível de utilização do mesmo e identificar pontos fortes e fracos do SNS. Para a recolha de dados foram realizadas 503 entrevistas, a indivíduos com 18 ou mais anos, residentes em Portugal, em março e abril de 2025.