O novo Diretor Nacional de Saúde de Cabo Verde tomou hoje posse envolto em polémica após a Ordem dos Médicos ter manifestado a sua preocupação por Artur Correia não ser médico, o que foi minimizado pelo ministro da tutela.
Artur Correia, no seu discurso de tomada de posse, enalteceu partes do seu percurso, nomeadamente a carreira no Serviço Nacional de Saúde (SNS), e no final da cerimónia lembrou aos jornalistas que em alturas de grandes epidemias sempre puderam contar com ele na linha da frente.
A polémica estalou quando o bastonário da Ordem dos Médicos de Cabo Verde, Daniel Silves Ferreira, realizou uma conferência de imprensa na terça-feira para se manifestar preocupado com o facto de Artur Correia não ser médico.
No entender desta Ordem, esse facto poderá por em risco o sistema nacional de saúde, nomeadamente em questões e decisões que são do domínio médico.
Confrontado com estas afirmações, o ministro da Saúde e Segurança Social, Arlindo do Rosário, afirmou que não existe qualquer risco nem motivo de preocupação, tendo em conta a experiência e formação académica de Artur Correia que desempenhou funções como diretor do Hospital Central da Praia (Hospital Agostinho Neto) e funções de direção no Comité de Coordenação de Combate à Sida ou do Programa de Combate a Doenças de Transmissões Vetoriais e Doenças.
Artur Correia tem “todas as competências e experiência necessárias para dirigir o Programa Nacional de Saúde que é fundamentalmente um desempenho de coordenação dos vários programas”, disse o ministro que negou ter recebido qualquer carta da Ordem dos Médicos sobre este assunto.
Sobre a falta de formação médica do novo Diretor Nacional de Saúde, Arlindo do Rosário disse que esta não é uma inovação em Cabo Verde, afirmando que, ainda que fosse, o país pode inovar em muitas matérias, podendo esta perfeitamente ser uma delas.
O ministro aproveitou para esclarecer que a ideia de que só um médico pode dar pareceres sobre determinadas áreas na saúde “está ultrapassada”, defendendo mais um modelo em que “a saúde não é só cura, mas também prevenção da doença”, ideia anteriormente defendida no discurso com que deu posse a Artur Correia e a nova presidente do conselho de administração do Instituto Nacional de Saúde Pública, Maria da Luz Lima, que até agora desempenhava as funções de Diretora Nacional de Saúde.
Nesse discurso, Arlindo do Rosário referiu que “a fragmentação e as ações unilateralistas devem ser evitadas e combatidas a todos os níveis. O setor da saúde precisa de uma abordagem integradora, holística, multissetorial, pluridisciplinar e que promova a unicidade na ação do Ministério da Saúde e da Segurança Social”.
“Esta abordagem deve estar imbuída nas ações dos que têm a responsabilidade de gerir os serviços de saúde em todos os níveis da pirâmide sanitária. Pois só assim poderemos falar de um sistema nacional de saúde, como aliás refere a nossa constituição. Um sistema nacional em que a vertente preventiva é tão valorizada como a vertente curativa”, adiantou.
Para o ministro, “na saúde, todos têm o seu lugar e são imprescindíveis para cuidar da saúde e tratar quem está doente”.
Confrontado com as dúvidas levantadas pela Ordem dos Médicos, Artur Correia disse não querer alimentar polémicas, mas disse que se sente “capacitado e com autoridade técnica suficiente para debater as questões de saúde com qualquer profissional de saúde”.
“Não quero prolongar polémicas”, afirmou, enumerando entre as duas prioridades as metas já traçadas de erradicar o paludismo em Cabo Verde até 2020 e na mesma data eliminar a transmissão vertical do VIH de mãe para filho.