A reorganização da rede de cuidados para o acidente vascular cerebral (AVC) é uma prioridade. O AVC continua a ser uma doença devastadora, com um índice elevado de incapacidade funcional e morte. No entanto, existe um potencial de reversibilidade completa dos défices incapacitantes que o AVC provoca.
A trombectomia é uma técnica que recentemente provou, em estudos clínicos, benefícios muito significativos no tratamento do AVC agudo. Esta técnica – que consiste na desobstrução de um trombo sanguíneo – é altamente eficaz em situações muito específicas, nomeadamente na desobstrução de um grande vaso cerebral. Observa-se uma melhoria funcional que se traduz na independência do doente. Mas só uma percentagem reduzida dos doentes com AVC agudo, que se estima em 10%, beneficiará desta nova terapêutica. No entanto, os seus benefícios são tão significativos que se impõe uma reorganização dos cuidados de saúde no AVC agudo.
Este tratamento obriga a repensar as decisões de triagem do doente e as decisões de orientação do doente para os centros de intervenção apropriados. Esta evolução nos resultados tem a ver com a seleção de doentes, com as técnicas avançadas de imagem utilizadas, com as técnicas de atuação e com o tempo até ao tratamento.
E o que está sempre subjacente a este e a todos os tipos de tratamento do AVC agudo – e que é determinante para o seu sucesso – é o tempo. A rapidez com que o doente consegue chegar ao hospital vai ditar todo o sucesso na recuperação da sua independência.
A trombectomia é agora o tratamento de primeira linha para o AVC grave com obstrução de grandes vasos cerebrais. Estes resultados têm, de forma inevitável, repercussões na abordagem do AVC na fase aguda, implicando uma reorganização da rede de cuidados para o AVC, com centros de intervenção bem planeados. A consciencialização política deste facto é fundamental.
Uma elevada consciência em relação à importância dos tempos e da necessidade duma maior eficiência em todas as etapas é indispensável para a obtenção de melhores resultados.
Maria Teresa Cardoso
Coordenadora do Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna