A importância do controlo da asma para uma vida sem limitações
A asma é um importante problema de saúde pública, afetando aproximadamente 300 milhões de pessoas em todo o mundo, com tendência para aumentar. De acordo com o relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias de 2016, estima-se que mais de 1 milhão de portugueses tenha asma.
É uma doença inflamatória crónica das vias áreas, reconhecida atualmente pela sua heterogeneidade. Caracteriza-se pela existência de sintomas respiratórios, como “falta de ar”, sibilos (“gatinhos”), tosse e “peso no peito”, que variam de doente para doente, e no mesmo doente variam ao longo do dia, agravando muitas vezes à noite e nas primeiras horas da manhã. Estes sintomas estão associados a uma obstrução das vias áreas que é variável e potencialmente reversível.
Como doença heterogénea que é, não se manifesta da mesma maneira em todos os doentes. Existem asmáticos alérgicos e não alérgicos, uns com sintomas desde a infância, e mais raramente com queixas apenas na idade adulta.
Sabe-se que o meio ambiente pode desencadear o aparecimento de sintomas em doentes suscetíveis, estando identificados vários fatores como os alergénios inalados (ácaros, pólens, epitélios de animais, fungos…), alergénios alimentares, alguns fármacos, e fatores como a exposição a fumos, cheiros ativos, exercício físico ou frio, entre outros.
Independentemente do tipo de asma diagnosticado, deve ser iniciado um tratamento, visto que a existência de sintomas, reduz de forma significativa a qualidade de vida. Se conseguirmos controlar a inflamação e a obstrução das vias aéreas, é possível que o doente não apresente sintomas. Para tal, existe a terapêutica de manutenção (geralmente por via inalada), que o doente deve fazer diariamente e a terapêutica de alívio, utilizada apenas nas exacerbações. É importante referir que, se não forem corretamente utilizados, estes dispositivos não serão eficazes, sendo assim essencial que o doente aprenda a técnica inalatória correta.
No entanto, apesar de toda a terapêutica disponível, apenas 57% dos doentes tem a sua asma controlada. O mau controlo da asma tem um enorme impacto na qualidade de vida do doente, representando uma carga muito pesada para os doentes, para a família e para a sociedade. Traduz-se por idas ao Serviço de Urgência, utilização de terapêutica adicional e dias de absentismo escolar e laboral.
O objetivo do tratamento é conseguir um bom controlo dos sintomas, que permita ao doente asmático manter uma vida normal, sem se sentir limitado na sua atividade diária, minimizando em simultâneo o risco de exacerbações. O doente deve saber que é possível praticar todo o tipo de desportos, viajar e passear, desde que tenha um bom controlo da asma.
Para isto, a relação que se estabelece entre o médico e o doente é fundamental, devendo existir programas orientados para a educação e treino dos doentes asmáticos. O profissional de saúde deve conseguir explicar que a asma é uma doença crónica, e como tal, requer um tratamento a longo prazo, que pode ter uma evolução variável ao longo dos anos e que é importante o doente saber reconhecer uma agudização, uma vez que estas podem ser fatais. Por outro lado, o doente não deve ter medo de “ficar dependente” dos inaladores, devendo adquirir o conhecimento e a confiança, para fazer ajustes na sua terapêutica sempre que necessário.
Para além de todos os programas já existente, está neste momento a decorrer uma campanha de âmbito nacional, intitulada “Vencer a Asma”, com o intuito de alertar para a importância da adesão à terapêutica. Foi lançado o site www.venceraasma.com que pode ser consultado para mais informações.
Por tudo o que foi referido, é essencial que o doente adira ao tratamento prescrito, de forma correta, uma vez que, com a terapêutica adequada e adaptada a cada doente, é possível controlar a asma, e ter uma vida sem limitações.
Filipa Todo Bom
Coordenadora da Comissão de Trabalho de Alergologia Respiratória da SPP
Pneumologista no Hospital Beatriz Ângelo e Hospital da Luz