Sempre que surge um grave problema de saúde levanta-se logo de imediato a seguinte pergunta, não há ainda tratamento?
Compreende-se perfeitamente esta forma de estar, porque a comunidade, apesar de todos os contratempos, habituou-se às grandes conquistas da medicina. Obviamente que nem tudo passa por esta medida, mas uma parte significativa pode ser resolvida ou minimizada através das terapêuticas médicas.
O “Ébola” está aí, a atacar inexoravelmente a pobre África, caldo de muitas doenças, e a ameaçar o ocidente. Sempre que tal acontece, ameaças ao bem-estar e saúde dos ocidentais, os esforços são canalizados para encontrar uma solução, vacina ou medicamentos.
As indústrias responsáveis põem-se em campo. Acontece que a investigação para obter um novo produto, capaz de atingir os seus fins, custa imenso dinheiro, de uma forma geral podemos apontar para verbas da ordem dos mil milhões de dólares.
As empresas de investigação têm com objetivo obter retorno do investimento e obter lucros da venda, logo, se não houver perspetivas de retorno substancial não se atrevem a tamanha aventura.
O caso do “Ébola” é paradigmático. Esta doença é conhecida desde 1976. Apresenta uma letalidade impressionante, inicialmente autolimitada a determinadas zonas de um continente sem recursos, e, por isso mesmo, nada convidativo a investimentos.
Agora, apesar de atacar o ocidente, continua a não ser muito convidativa à investigação, porque atinge poucas pessoas, e, se forem tomadas adequadas medidas de prevenção, pode ser perfeitamente controlada. Então, o que fazer?
Não dá lucro investigar novos produtos? Então não se investe. Mas não é preciso falar do “Ébola” para se chegar a esta conclusão. Se recordarmos a história da tuberculose verificamos que praticamente não há medicamentos novos desde há muitas décadas.
A doença deixou de ser problemática no primeiro mundo – apesar do aparecimento de novas estirpes ultrarresistentes -, o número de pessoas infetadas baixou de forma drástica, e ficou acantonada a comunidades pobres e com recursos insuficientes para adquirir novos produtos.
Este problema começa a preocupar as autoridades que, assim, se veem impossibilitadas de lutar e tratar velhas e novas doenças. Trata-se de um grave problema de saúde pública que vai obrigar à tomada de iniciativas no sentido de se investigar e obter novos produtos, porque o mundo é cada vez mais pequeno, mais interativo e mais perigoso.
Na prática, os grandes laboratórios, historicamente responsáveis pela produção de novos fármacos, continuam a assobiar para o lado, investindo mais nas doenças cardiovasculares e nas neoplasias, certos de que poderão obter proventos enormes, já que atingem mais pessoas e cujos recursos fazem inveja aos povos subdesenvolvidos, que sofrem, também, das mesmas doenças que nós, ocidentais, além de continuarem a sofrer os horrores de velhas e novas doenças emergentes.
Solução? Há uma que começa a ser desenhada. As autoridades dos diferentes países deveriam criar prémios chorudos, nos quais estariam contemplados os investimentos da investigação, além de um generoso equivalente ao retorno comercial, e ficarem com os direitos exclusivos desses produtos com os quais fariam frente aos problemas de saúde emergentes, propiciando os meios terapêuticos adequados a todos os povos, independentemente do seu nível económico.
Esta seria a forma mais adequada de resolver a falta de investimento em medicamentos contra determinadas doenças, caso do “Ébola” e da velha tuberculose, porque para a hipertensão e a hipercolesterolemia já temos mais do que suficientes.
SALVADOR MASSANO CARDOSO