Investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) desvendaram alterações no gene que aumenta o risco de desenvolvimento de cancro gástrico difuso hereditário, abrindo portas à utilização de três novos critérios de identificação.
Em comunicado, o instituto do Porto revela hoje que o estudo, publicado na revista Lancet Oncology, identificou as alterações no gene CDH1 que “especificamente aumentam o risco de desenvolvimento dos cancros associados à síndrome de cancro gástrico difuso hereditário”.
A síndrome de cancro gástrico difuso hereditário, causada por alterações no gene CDH1, afeta perto de 50 mil pessoas por ano em todo o mundo, sendo que os portadores dessas alterações apresentam um elevado risco de desenvolver cancro do estômago (homens) e da mama (mulheres) em idade jovem.
Quando conhecida a causa genética da doença, a prevenção e sobrevida dos doentes são maximizadas se o estômago ou mama forem removidos profilaticamente após os 18 anos e antes de a doença se manifestar.
Na investigação foram estudadas as diversas variantes que ocorrem no gene CDH1 e provado que “apenas as alterações que eliminam a produção de Caderina-E aumentam o risco de desenvolver cancro da mama e cancro do estômago”, esclarece, citada no comunicado, a investigadora Carla Oliveira.
A clarificação das variantes do gene da Caderina-E que acarretam maior propensão de desenvolver a síndrome e os tipos de cancro mais prevalentes permitem “repensar os critérios clínicos para teste genético, no sentido de melhorar a gestão clínica de famílias portadoras destas variantes”, salienta, também citado no comunicado, o primeiro autor do artigo, José Garcia-Pelaez.
“Ao clarificarmos as mutações especificas no gene CDH1 que constituem um risco real para o indivíduo e quais as mutações que não são preocupantes, conseguimos avançar com três novos critérios clínicos, a somar aos atualmente utilizados, que ajudarão a identificar famílias em risco”, acrescenta o investigador.
O estudo abrangeu dados de 854 doentes portadores de 398 variantes raras diferentes do gene CDH1, assim como mais de 1.000 familiares que foram seguidos clinicamente e desenvolveram cerca de 2.000 cancros, acrescenta Carla Oliveira, notando que este foi um “trabalho multicêntrico”, ao recorrer a dados de 29 laboratórios de 10 países europeus.
Para a realização do estudo, os investigadores recorreram ainda a informação dos testes genéticos e dados clínicos disponíveis na Rede Europeia de Referencia em Síndromes de Risco de Tumores (ERN-GENTURIS).
As conclusões deste estudo “permitem propor critérios clínicos mais assertivos que maximizam a identificação de famílias em risco para esta síndrome”, salienta também a investigadora.
Estes novos critérios clínicos serão validados entre pares na próxima reunião do consórcio do projeto que reúne especialistas internacionais e decorrerá no Porto em 2024.
“As implicações não são apenas no sentido preventivo individual, estamos a falar de uma síndrome de cancros hereditários, ou seja, que tem implicações familiares, afetando os doentes e, com grande probabilidade, também os seus familiares de sangue”, acrescenta Carla Oliveira, lembrando que o estudo pode ajudar inúmeras famílias a tomar decisões informadas para a gestão individual de risco.
Além dos parceiros europeus da ERN-GENTURIS, a investigação contou com a participação dos grupos de investigação “Population Genetics & Evolution” e “UnIGENe” do i3S, do Ipatimup Diagnósticos e de equipas do Centro Hospitalar Universitário de São João, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, IPO-Porto, GenoMed, Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra e Porto Comprehensive Cancer Centre Raquel Seruca.