Número de abortos em Portugal tem vindo a decrescer pelo quarto ano consecutivo, segundo dados da Direção Geral da Saúde, com 16.454 intervenções em 2015 2. Contudo, 96,5% das interrupções voluntárias da gravidez são feitas por opção da mulher, demonstrando que ainda ocorrem muitas gravidezes não desejadas em Portugal-
A quase totalidade das mulheres portuguesas (98%)1 que necessitam da pílula do dia seguinte após uma relação sexual não protegida confia no conselho do farmacêutico para decidir qual a contraceção de emergência mais adequada para si. Esta é uma das principais conclusões de um estudo realizado pela IMS Health para a companhia HRA Pharma, que comercializa a pílula do dia seguinte ellaOne®. O estudo analisou casos de dispensa deste tipo de contraceção e valorizou quais os fatores mais importantes para os farmacêuticos e para as mulheres que tiveram uma relação sexual não protegida e querem evitar uma possível gravidez não planeada.
Atualmente, a maioria das mulheres em idade fértil deseja ter dois filhos ao longo da sua vida. Este facto obriga à utilização de um contracetivo regular durante cerca de 30 anos. Num período de tempo tão extenso é normal que existam falhas. Perante uma relação sexual desprotegida e a hipótese de uma gravidez não desejada, as mulheres contam com a pílula do dia seguinte como uma segunda oportunidade.
Neste sentido, Henrique Mateus Santos, Farmacêutico Comunitário, explica “muito se discute sobre o aborto, mas creio que é fundamental desenvolver um plano de consciencialização para a redução destas intervenções. O aborto é um direito da mulher, mas representa sempre um risco mais elevado para a sua saúde do que a utilização de um método contracetivo. Por isso, seria bom não deixar de incentivar a prevenção de gravidezes não desejadas por exemplo, através do acesso e promoção da utilização da pílula do dia seguinte quando algo corre mal”.
O estudo avaliou diversos aspetos no âmbito da dispensa da pílula do dia seguinte, quer do ponto de vista dos farmacêuticos como do ponto de vista das mulheres. Por exemplo, estes profissionais de saúde sentem-se envolvidos na dispensa deste medicamento, com 97% a considerar-se moderadamente ou muito envolvido no processo.
Quando analisamos os critérios mais importantes para a dispensa da pílula do dia seguinte, para o farmacêutico, o mais importante é a eficácia (geral, nas primeiras 24h e tempo total de eficácia do produto) (33%), seguido do perfil de segurança (21%). Também para as mulheres o mais importante é a eficácia do produto na hora de prevenir uma gravidez não planeada.
As perguntas mais frequentes realizadas pelos farmacêuticos são quantas horas passaram desde a relação sexual desprotegida (93%), se a mulher está a fazer algum tipo de medicação (50%), qual o seu método contracetivo regular (63%), se já tomou a pílula do dia seguinte nesse ciclo (46%) e se a mulher tem algum problema de saúde (41%). Face à informação recolhida nestas entrevistas, aproximadamente 91% dos farmacêuticos recomenda apenas uma opção de contraceção de emergência que, na quase totalidade dos casos (98%) é seguida pela mulher. Ainda assim, mais de metade das mulheres (61%) abandona a farmácia sem mais informação adicional para esclarecer possíveis dúvidas que surjam sobre a contraceção de emergência.
“A pílula do dia seguinte é um fármaco com um perfil de segurança elevado, ou seja, com efeitos secundários leves e transitórios, como qualquer outro medicamento. Por isso, pode ser utilizada sem preocupações, desde que de forma correta. Contudo, é essencial recordar que, em nenhum caso, substitui o método contracetivo regular nem previne de doenças sexualmente transmissíveis, nem supõe uma garantia de proteção para relações sexuais futuras”, acrescenta ainda Henrique Mateus Santos.
Existem diferentes tipos de contracetivos de emergência, que incluem a pílula do dia seguinte e o dispositivo intrauterino (DIU). A pílula do dia seguinte deve ser tomada o mais rapidamente possível após uma relação sexual não protegida ou uma falha no método contracetivo utilizado.
Referências:
Estudo IMS Julho 2015.
Relatório Dos Registos das Interrupções Da Gravidez Dados De 2015 Direção de Serviços de Prevenção da Doença e Promoção da Saúde. Divisão de Saúde Sexual, Reprodutiva, Infantil e Juvenil. setembro 2016 Report No.: abril 2016.
Glasier AF, et al. The Lancet 2010; 375:555-62. Updated October 24, 2014.
Brache V, et al. Contraception 2013; 88(5):611-8.